Wednesday, November 22, 2006

Um testenhunho de 5 anos


Escrever sobre cinco anos de Tapete Mágico, quando já se saiu, é sempre uma tarefa árdua, dolorosa, mas ao mesmo tempo tonificante.
Ver os espectáculos como uma estranha, pensar que um dia estive naquele grupo que dava mais cor a uma escola, que já estive “ali”, a lutar pela concretização de um projecto com mais ou menos crises de adolescência, com o empenho de quem queria que “desse certo”, com os nervos à flor da pele, com as angústias de quem sente na pele o que é o teatro… É uma vivência deliciosamente “traumatizante”. Por isso é fácil lembrar-me de como tudo começou…
Tinha precisamente 15 anos quando resolvi suster a respiração e dar um dos saltos mais altos que dera até então. Hora do salto: 14.30. Local do Salto: Ginásio da escola. Pronto, era oficial! Comecei a fazer parte do grupo de teatro “Tapete Mágico”! E o que foi apenas para experimentar tornou-se numa “droga” altamente viciante. Uma droga que me deixou agarrada até ao final do secundário….até ao final da vida!
Num turbilhão de emoções, partilhei projectos, cresci emocionalmente e tornei-me no que sou hoje. Porque há algo de inexplicável no teatro que evidencia aquilo que nos preocupamos em camuflar, em esconder, em recalcar, fazendo-nos crescer: as emoções.
O teatro procura todas as emoções escondidas, descobre a essência que nunca pensámos que existisse, aquela luzinha que ninguém pensa ter mas que na verdade toda a gente possui. Num acto de entrega e de paixão quase cega, entregamo-nos ao sentimento que o teatro tenta despertar, e muito naturalmente a “obra” nasce! Se de excelente qualidade ou de péssima qualidade, nunca foi isso que teve em causa. Houve sim, sempre, a preocupação em fazer um bom espectáculo, mas sempre me motivaram a não encarar a estreia ou o “fazer teatro” como um foco de pressão, como um momento angustiante de avaliação constante. A postura que me ensinaram a ter perante o teatro foi bem diferente. “Independentemente do que aconteça hoje, retirem prazer!” E foi isso que aprendi: independentemente se sofri a raiva de uma esposa traída, o delírio de Antígona, a angústia de Inês de Castro, a alegria de uma rapariga apaixonada. Todas essas personagens eu vivi intensamente em palco. E enquanto lá estive sei que fui plenamente feliz. Talvez por isso me lembre com tanta saudade os momentos que vivi no “Tapete Mágico”. De carácter agridoce, muitos foram os momentos que pensei em desistir. Mas os pozinhos perlimpimpim, lançados por uma fada mágica, fizeram com que esses momentos, em vez de nos destruírem, nos dessem mais vontade de enfrentar a vida.

A paixão instalou-se ao ponto de inflamar a alma. Ao ponto de desejar saber mais, de dar mais, e fazer mais. Até ao dia em que se batem as ultimas palmas à nossa actuação pelo “Tapete mágico”. A nossa última peça na jóia da coroa: o Teatro Lethes. A nossa última homenagem ao teatro pelo Tapete Mágico! Aparece então o conflito: O corpo rejubila por estar perto do ansiado descanso, mas por dentro estamos em cacos; Estamos felizes e ao mesmo tempo... Deixamos de sentir os abraços, os ouvidos fecham-se aos “parabéns” que nos dirigem, e a nuvem negra da tristeza instala-se. Não pela glória que acaba, não pelas palmas que já não se ouvem, mas pelo laço que sabemos que de certa forma se quebrou.
Mas embora eu me tenha ido embora, sei que posso sempre voltar ao meu “tapetinho”, que me fez sonhar, que me educou, que me elevou o sorrir, que me fez mulher. Porque sei que ele faz parte de mim, eu faço parte dele…e esse elo nunca se quebrará!
Rita Justino

3 comments:

AOliveira said...

Valeu a pena ter vivido para poder ler textos destes. Obrigada pela entrega. Sem ela, nada disto teria acontecido!
Ana

Anonymous said...

Boa Ritinha, como dizem os brasileiros, mandou bem. Para além de descreveres de uma forma sublime a tua passagem pelo tapetinho, aliás a nossa passagem, metes em palavras sentimentos que eu não conseguiria pôr. Tenho saudades tuas, beijocas

Anonymous said...

Bem...acho que nao tenho tão boas palavras para definir a minha passagem pelo tapete mágico...nem pelo mundo do teatro. A verdade é que foi algo que me marcou muito e algo que me fez crescer como nunca pensei.
Foi uma linda passagem que merece ser sempre lembrada...momentos que nunca esquecerei.
Quero agradecer a todos os que me apoiaram e que acreditaram em mim, aqueles que me deram esta oportunidade única. Pois não há nada até hoje de que eu sinta mais saudades que de fazer teatro... Só de lembrar dá um aperto no coração que não dá para explicar.
Podemos ter tido momentos em que parecia que não iamos conseguir, mas valeu sempre, sempre, o esforço, o gosto e a dedicação com que todos estávamos ali...
Um palco é um palco e nada o substitui... Beijos para todos...e um especial para ti, Ana Cristina*