Saturday, September 06, 2014

Até breve, Mestre!

Um dos mais rigorosos homens do Teatro no Algarve deixou-nos órfãos no ano passado. Duval Pestana, matemático e músico, impôs a todas as suas criações teatrais aquele cunho de rigor e de beleza de que se pode retirar o sublime. Era teatro escolar, sim, mas dotado de um rigor, de uma beleza, que transcendia o que se via habitualmente neste âmbito.
Amante dos autores do dito “teatro do absurdo”, como Ionesco e Tardieu, deixou-nos obras memoráveis, de que destaco a sua encenação da Cantora Careca. A sua presença imponente abraçava uma ternura infinita para com os seus inúmeros discípulos. Zangava-se nos ensaios, é certo. Mas os seus alunos perdoavam-lhe os ímpetos da sua voz estrondosa por via da paixão pela obra. Sentia um prazer especial sempre que me deslocava a Lagos para apreciar uma encenação do meu amigo Duval Pestana. Porque sabia que iria regressar mais rica e mais sabedora de um ofício onde nunca se deixa de aprender: o teatro. Duval pestana soube acompanhar as novas tendências da encenação, não ficando cristalizado no tempo. E se alguma função tem a crítica de teatro, é a de tornar eterno o momento efémero que se vive em cima das tábuas. Irreverente, frontal, lutador por um mundo no qual a arte se alia à educação para elevar o ser humano, deixou uma obra imensa e viva na pessoa de cada um dos seus alunos. A Câmara de Lagos prestou-lhe justamente uma homenagem, batizando o auditório municipal com o seu nome. E os seus alunos fizeram-lhe uma sentida e bela homenagem. Gostei muito de conversar consigo, Duval. E de aprender muita coisa acerca da harmonia no teatro. É por isso que lhe digo: até breve, mestre. Havemos de voltar a conversar!

2 comments:

alexandra said...

Há pessoas que são mágicas sem o saber e nós temos o privilégio de passar por essas vidas. Bonita homenagem.

Anonymous said...

Belíssimo texto de homenagem ao grande mestre!

Abraço,

Teresa Henriques