Thursday, March 27, 2008

Pedro lembrando Inês

Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a manhã da minha noite. É verdade que te podia dizer “Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos apenas dentro de nós próprios? Mas ensinaste-mea sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,até sermos um apenas no amor que nos une,contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo ele que mal corria quando por ele passámos,subindo a margem em que descobri o sentidode irmos contra o tempo, para ganhar o tempo que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,de chegar antes de ti para te ver chegar: coma surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.


Nuno Júdice

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